terça-feira, 1 de abril de 2008

Comitê Empresarial

Em fevereiro deste ano tive o prazer de fundar em Joinville o Comitê Empresarial, que tem como objetivo reunir empresários catarinenses e especialistas nas mais diversas áreas para discutir assuntos de interesse da classe empresarial, como por exemplo, sucessão, governança corporativa, capital humano, gestão e sustentabilidade, entre outros.

O tema abordado nesta reunião inaugural foi “Sobrevivência pessoal em processos de sucessão”, conduzido com maestria pelo consultor Fernando Curado (1).

Após o evento, o Curado preparou um artigo sobre como é tratada a questão dos recursos gerados por empreendimentos familiares que reproduzo aqui.

Uma boa leitura e até o próximo encontro!

RIQUEZA, CONFLITO E CONVERGÊNCIA
Fernando Curado(1)

A despeito de atuar há mais de quinze anos como consultor de empresas familiares e como professor do IBGC (o instituto de referência em governança corporativa no país), ainda me surpreendo ao ver como a questão do manejo dos recursos gerados por empreendimentos familiares causa perplexidade e conflitos. Por isso, um dos conceitos que mais tenho trabalhado com fundadores e sucessores desse gênero de empresa é o que envolve “formação de riqueza primária e riqueza secundária”. Empresas familiares, é bom repetir, têm características muito próprias e são muito importantes no Brasil, pois constituem a esmagadora maioria dos empreendimentos. A empresa familiar típica tem uma ou mais das seguintes características: ser criada e gerida por membros de uma mesma família; desejarem seus atuais gestores ou controladores que a sociedade permaneça na família; e ter, na direção executiva, mais de um membro de uma ou mais de uma geração.

Recentemente, abordamos o tema dos recursos em Joinville, em debate com um grupo atento e seleto de empresários, tanto da geração dos fundadores como da geração dos sucessores. A reação ao tema é a mesma constatada em outras regiões do país. Ninguém conhece melhor essa questão que os próprios empresários, mas é interessante notar como eles ainda se chocam diante de considerações um tanto óbvias, mas que com certeza não têm sido objetos de reflexão madura:

- Os negócios começam pequenos e servem para sustento do fundador e de sua família.

- Os negócios crescem e o fundador, numa cultura que privilegia o trabalho, induz seus filhos a seguir seus passos.

- Com o tempo, o equilíbrio se rompe: (1) o negócio não consegue mais sustentar as famílias, (2) as famílias crescem mais que os negócios, (3) os membros têm aptidões ou desejos diferentes dos necessários para administrar o negócio, ou (4) ocorre tudo isso junto, com diferentes intensidades.

Esse conjunto de fatores explica o misto de atração e rejeição provocado pelo convite para debater essas questões de riqueza e sustento. É bom lembrar que riqueza (em termos gerais) é o valor criado pela família na transformação dos insumos, que riqueza primária é o valor criado pelo negócio inicial ou principal da família (e pode ser reinvestido ou retirado do negócio), que sustento é o valor retirado do negócio para manter a família proprietária. Já riqueza secundária é o resultado do investimento que foi retirado do negócio inicial ou principal da família. Tal resultado pode ser gerador de caixa ou não.

Com a pressão do dia-a-dia e a excessiva carga de trabalho, muitos empresários se esquivam do tema. Mas não há como fugir dele, principalmente quando se avizinha ou se configura a necessidade de um processo de sucessão. Nesses momentos, aumenta substancialmente a carga emocional, tanto nas empresas como no seio da família, tornando as decisões ainda mais difíceis. Transformar a empresa em “refúgio de inúteis” (expressão dura, mas verdadeira) costuma ser a pior das soluções. Trazer de fora um executivo profissional para “varrer” familiares da gestão também costuma ser desastroso. A saída é algo trabalhosa, mas é viável – e as soluções decorrentes tendem a ser duradouras. As duas gerações envolvidas precisam pôr na mesa suas expectativas (capitalizar a empresa ou tirar dinheiro para objetivos pessoais, por exemplo) e chegar a um ponto de convergência. Fazendo isso, estarão praticando adequadamente os conceitos de riqueza primária e secundária, e trabalhando juntos para a perpetuação do negócio.

(1) Fundador e presidente da MSCI Consultoria, fundada em 1991, implantou e lidera o Comitê de Empresas Familiares do WTC Club. Foi diretor do Grupo Ultra e presidente da Probel. É professor do curso de conselheiros de administração do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e professor de empresas familiares e estratégia na BSP – Business School São Paulo. Foi membro do conselho da TAM-Marília. É membro do conselho da Sotreq, Regina Festas e BSP. Presta consultoria ao conselho de administração da Cereser, Castelo Alimentos e Bovespa Holding entre outras empresas.

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